Coberturas especiais

Mulheres são maioria na produção de festivais de inverno mineiros, revela estudo

Produtoras enfrentam sobrecarga e desigualdade de gênero, segundo pesquisa destacada pelo novo episódio do podcast ‘Aqui tem ciência’, da Rádio UFMG Educativa

Produtoras dos festivais coordenam as equipes administrativa, técnica, cenográfica, de logística e de comunicação
Invisibilidade de gênero foi um dos problemas relatados pelas produtoras culturais entrevistadas
Foto: Bence Szemerey | Pexels

As mulheres são maioria na produção e na gestão da equipe interna do Festival de Inverno Fórum das Artes, realizado nos municípios mineiros de Ouro Preto, Mariana e João Monlevade, e no Festival de Inverno da UFMG. De 2017 a 2019, elas respondiam por 60% dessas atividades nos dois eventos. Mulheres também predominaram na produção de espetáculos teatrais dos dois festivais, com percentuais acima de 40%, frente à participação masculina, de 25% a 29%. O restante se divide entre produções coletivas ou que não informaram a composição da equipe.

Os dados fazem parte de levantamento realizado com base em análise das fichas técnicas dos festivais e de sua programação, realizado pela artista e produtora Gabriella Seabra, durante o mestrado realizado no Programa de Pós-graduação em Artes da Escola de Belas Artes da UFMG.

Atual doutoranda em artes cênicas na Universidade Federal de Uberlândia, a pesquisadora avalia que a participação das mulheres, apesar de majoritária, pode estar subestimada. “Na produção, muitas vezes, não somos citadas nas fichas técnicas. Às vezes, você vai a um teatro, a um espetáculo, vê todo mundo sendo citado na fala final de agradecimento, e a produção é como se não existisse”, conta.

Sobrecarga e desigualdade

Nos festivais, as produtoras são responsáveis por organizar e gerenciar espaços que recebem a programação nas cidades que sediam os eventos, além de cuidar da produção dos espetáculos e coordenar as equipes administrativa, técnica, cenográfica, de logística e de comunicação. Elas também auxiliam a direção-geral em todo o planejamento. “A falta de delimitação de funções no teatro acaba acarretando a  sobrecarga. Quando falamos de mulheres, já sabemos que viemos de lugares de múltiplas demandas e cargas de trabalho”, lembra a autora da pesquisa. Ela defende que a produção seja considerada parte do trabalho criativo na arte.

Além da análise das fichas técnicas, Seabra entrevistou cinco produtoras, entre integrantes das equipes de organização do Fórum das Artes e do Festival de Inverno da UFMG, e produtoras de espetáculos teatrais que integravam a programação desses eventos. 

“Eu ouvi relatos muito sensíveis sobre racismo, desigualdade e invisibilidade de gênero. Muitas vezes, elas colocaram suas opiniões em reuniões de alinhamento e não tiveram a mesma visibilidade que os homens; foram interrompidas, ou suas vozes sequer foram ouvidas”, relata.

Saiba mais sobre o estudo no novo episódio do Aqui tem ciência, que integra série sobre pesquisas realizadas por mulheres que abordam questões de gênero:

Raio-x da pesquisa

Título: Gestão e produção cultural de mulheres nos festivais de inverno de Minas Gerais: resistência e enfrentamento político na cultura mineira

O que é: Dissertação de mestrado que discute a participação feminina na produção e na gestão das equipes internas do Fórum das Artes e do Festival de Inverno da UFMG entre 2017 e 2019, a partir da análise das fichas técnicas dos festivais e da programação dos eventos, além de entrevistas realizadas com mulheres que atuam na produção cultural e teatral.

Autora: Gabriella de Oliveira Seabra

Programa de Pós-graduação: Artes

Orientadora: Heloisa Marina da Silva

Ano de defesa: 2024

O episódio 194 do Aqui tem ciência tem produção e apresentação de Júlia Rhaine, roteiro de Alessandra Ribeiro e trabalhos técnicos de Cláudio Zazá. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos realizados na UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe traz os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Universidade. Ao longo do mês de março, o programa apresenta uma série de episódios que valorizam estudos feitos por mulheres. 

O Aqui tem ciência vai ao ar na frequência 104,5 FM e na página da emissora, às segundas, às 11h, com reprises às sextas, às 20h, e pode ser ouvido também em plataformas de áudio como o Spotify e a Amazon Music.

Gabriella Seabra durante gravação do 'Aqui tem ciência'
Gabriella Seabra durante gravação do 'Aqui tem ciência' Foto: Alessandra Ribeiro | Rádio UFMG Educativa