Parques urbanos de BH subutilizam imagens científicas na divulgação do conhecimento
Tese de doutorado defendida na ECI indica caminhos e fornece diretrizes para ampliar a clareza, a acessibilidade e o engajamento do público

Nos parques urbanos da capital, sinalizações e imagens científicas, em forma de mapas, fotografias, ilustrações e grafites, são frequentemente apresentadas de forma inadequada. Deficiências na conservação, localização, distribuição e acessibilidade das imagens estão entre as principais limitações, bem como a predominância de textos sobre imagens, a ausência de legendas e o design pouco atrativo.
Esses são alguns dos achados da pesquisa empreendida pela servidora Adriana Aparecida Lemos Torres, no Programa de Pós-graduação em Gestão & Organização do Conhecimento da Escola de Ciência da Informação. Em janeiro, ela defendeu a tese Divulgação científica por meio de imagens científicas em parques urbanos: um estudo em Belo Horizonte.
À luz dos princípios e práticas de divulgação científica, a autora investigou como os espaços urbanos podem atuar como mediadores de conhecimento entre a ciência e a sociedade e buscou formular recomendações práticas. “A pesquisa aborda um tema inovador e inédito no contexto brasileiro, e a revisão de literatura confirmou essa lacuna. O tema é relevante, pois as imagens têm significativo potencial de aproximar a ciência do público leigo, principalmente no contexto de parques urbanos, locais de grande circulação e de lazer das pessoas”, observou.
A metodologia, de natureza qualitativa e aplicada, incluiu a observação não participante direta nos oito parques urbanos de Belo Horizonte: das Mangabeiras Maurício Campos, Ecológico Francisco Lins do Rego, Ecológico Roberto Burle Marx, Aggeo Pio Sobrinho, Municipal Américo Renné Giannetti, Municipal Fazenda Lagoa do Nado, Jacques Cousteau e Primeiro de Maio. Também foi feita pesquisa documental.
A fundamentação teórica baseou-se em conceitos sobre divulgação científica, com foco no potencial das imagens para comunicar ideias complexas de maneira acessível. A literatura também aborda os parques urbanos como espaços híbridos e promissores para a mediação de conhecimento.

Discrepância
De acordo com a autora, é surpreendente a discrepância na oferta de informações científicas entre os parques visitados. “No das Mangabeiras e no Ecológico da Pampulha, há muitas imagens e textos em diferentes suportes. No Primeiro de Maio e no Burle Marx, por outro lado, existem poucas ou nenhuma informação científica”, compara Adriana Lemos. “A impressão é que as gestões dos parques ocorrem de forma isolada, sem uma política de divulgação científica que dê uma diretriz para todos – embora esse aspecto não tenha sido aprofundado na pesquisa”, ressalta.
O estudo também resultou na sugestão de boas práticas pontuais que podem servir de modelo para iniciativas futuras, incluindo a elaboração de um planejamento estratégico que defina o público-alvo, os objetivos de comunicação, as mensagens-chave a ser transmitidas e os recursos visuais e textuais mais adequados para cada contexto.
“Painéis com linguagem simples e adaptada ao público geral devem ser criados para evitar jargões técnicos e termos científicos. É importante utilizar imagens de alta qualidade, com boa resolução e que explorem recursos visuais como cores, composição e enquadramento. Também convém a implementação da audiodescrição, com vistas à inclusão de pessoas cegas ou com baixa visão. A biodiversidade do próprio espaço também poderia ganhar destaque, com boas fotos de plantas, insetos, aves e outros animais que habitam o parque”, enumerou.
Adriana Lemos também sugere a criação de parcerias entre gestores e instituições científicas para fortalecer a presença da ciência nos espaços. “Essas parcerias podem envolver a colaboração na produção de conteúdo, na realização de eventos e na capacitação de profissionais para a comunicação. A participação de cientistas na elaboração dos materiais e atividades pode garantir a precisão das informações e aumentar a credibilidade da comunicação”, projeta a pesquisadora.
Tese: Divulgação científica por meio de imagens científicas em parques urbanos: um estudo em Belo Horizonte
Autora: Adriana Aparecida Lemos Torres
Orientadora: Benildes Coura Moreira dos Santos Maculan
Defesa: 10 de janeiro de 2025, no Programa de Pós-graduação em Gestão & Organização do Conhecimento da Escola de Ciência da Informação