Língua Reabilitada
Método alternativo usado para recuperar força do músculo é premiado no grupo Ciências Exatas, da Terra e Engenharias
Um aparelho que recorre a jogos digitais para recuperar a força da língua resultou no trabalho vencedor do grupo de Ciências Exatas, da Terra e Engenharias do Grande Prêmio UFMG de Teses. A tese, de autoria da pesquisadora Renata Maria Moreira Moraes Furlan, do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Estruturas, foi orientada pelo professor Estevam Barbosa de Las Casas e coorientada pela professora Andréa Rodrigues Motta
A ideia do trabalho, intitulado Proposta de um método alternativo para reabilitação da força da língua utilizando jogos digitais, surgiu quando a pesquisadora, graduada em fonoaudiologia, também pela UFMG, realizou, durante o mestrado, pesquisa biomecânica para o desenvolvimento de aparelhos que ajudassem em diagnósticos da área de fonoaudiologia. Naquela época, ela criou um dispositivo capaz de medir a força da língua dos pacientes. “Até então, não existia uma maneira precisa para que os fonoaudiólogos realizassem essa medição. Desenvolvi o aparelho e decidi, no doutorado, dar continuidade ao estudo, desenvolvendo outro aparelho, agora com jogos digitais para tratamentos de reabilitação da força da língua”, conta.
Por meio de parceria com o Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG, Renata criou um joystick que, adaptado na boca do paciente, pode ser movimentado pela língua em todas as direções. O controle é conectado a um jogo digital, elaborado por equipe do DCC liderada pelo professor Luiz Chaimowicz. Para jogar, o paciente realiza os comandos do jogo com a língua.
“Criamos quatro jogos. Em um deles, aparecem objetos na tela, às vezes à direita, às vezes à esquerda, na parte de cima ou na parte de baixo. O objetivo do jogo é que o paciente pegue os objetos com uma mão que também aparece na tela e que se movimenta de acordo com o movimento feito pela língua”, explica.
Segundo Renata Furlan, o tratamento por meio do jogo digital não substitui o trabalho do fonoaudiólogo, mas serve como ferramenta que pode melhorar os resultados obtidos nas sessões. “O tratamento tradicional obtém bons resultados, mas para crianças ele é cansativo”, explica. Ela acrescenta que o joystick apresenta outras duas vantagens se comparado à terapia tradicional. A primeira delas refere-se ao componente lúdico, que torna o exercício um desafio, principalmente para pacientes infantis. A segunda vantagem observada é o relatório produzido pelo computador depois que o paciente participa do jogo.
“Com o método tradicional de reabilitação de força lingual, o feedback é mais subjetivo, uma vez que o fonoaudiólogo precisa apalpar a língua do paciente para saber como foi o tratamento. Com o aparelho, ele tem feedback visual (observa se a criança está fazendo o movimento certo, acompanhando os movimentos na tela), e, ao fim do jogo, o programa de computador gera um relatório, que registra direção e tempo de força para alcançar os alvos que apareciam na tela. Esse relatório possibilita que o fonoaudiólogo entenda a condição do paciente e planeje a continuidade da terapia”, explica.
A pesquisadora destaca que o método desenvolvido em sua pesquisa de doutorado pode ajudar na melhoria da saúde e da qualidade de vida dos pacientes submetidos a tratamentos fonoaudiológicos. “Com uma terapia mais rápida e agradável, vemos aumentar a adesão do paciente a ela. Pacientes com problemas de força lingual sofrem com baixa autoestima e têm dificuldades de engolir os alimentos. Daí a importância de se criar um método que facilite a prescrição de tratamentos que possam ser efetivamente concluídos”, diz.
Testes com pacientes
Na primeira fase de elaboração do método, o jogo foi aplicado em oito pacientes, de 22 a 38 anos, todos alunos de pós-graduação do DCC. Na segunda etapa de testes, 10 crianças com força de língua normal e outras 10 com força de língua alterada – pacientes com idade de oito a 13 anos em tratamento no Hospital das Clínicas da UFMG – foram submetidas aos testes com o joystick. Foram realizadas, também, entrevistas com 10 fonoaudiólogos especialistas em motricidade orofacial. Eles acompanharam os testes e, segundo a pesquisadora, aprovaram o equipamento.
“Queríamos saber se o joystick era compatível com o método tradicional. Todos os especialistas consultados sugeriram que, além de reabilitar a força da língua, ele poderia ser adaptado para outros tipos de terapias linguais”, disse Furlan.
Apesar de a pesquisa de doutorado ter sido concluída e agraciada com o Grande Prêmio UFMG de Teses 2016, Renata Furlan destaca que os trabalhos ainda não foram finalizados. A patente do produto foi depositada em 2013, e o grupo de pesquisa agora se dedica a obter as certificações necessárias para que ele possa ser fabricado em larga escala. Além disso, uma aluna do mestrado está adaptando o joystick para tratamentos de mobilidade lingual.