Boletim
Trânsito de Saberes
Festa do movimento
Em sua 48ª edição, Festival de Inverno busca fomentar trânsito entre os saberes erudito e popular e se espalha pela cidade
O conhecimento não raro nasce do trânsito dos sujeitos em diferentes territórios culturais: do contato com o novo e com o divergente, surgem as condições de se pôr em perspectiva as nossas próprias hipóteses e formular saberes. A arte, na medida em que fomenta a experimentação, torna-se um instrumento vocacionado a propiciar esse trânsito.
Com o objetivo de promover esse diálogo e movimento entre sujeitos de diferentes territórios culturais, a UFMG realiza, de 15 a 23 de julho, o seu 48º Festival de Inverno. Todas as atividades serão em Belo Horizonte, em localidades das regiões do Barreiro e de Venda Nova, no Centro, em alguns bairros da capital, no campus Pampulha e em equipamentos de cultura da Universidade, como o Conservatório e o Centro Cultural UFMG. “O Festival nos dá a oportunidade de potencializar esses trânsitos por lugares que nem sempre são contemplados por atividades culturais”, diz Leda Maria Martins, diretora de Ação Cultural da UFMG. “Estamos expandindo as atividades para outras localidades. Belo Horizonte não se resume à região Centro-Sul”, afirma ela.
A edição deste ano contará com 17 oficinas para adultos, crianças e idosos, um minicurso sobre a relação entre as mitologias e as categorias de espaço e tempo, apresentações culturais como shows musicais, performances, espetáculos de teatro e de dança, além de oito aulas abertas. “A nossa proposta é promover uma possibilidade inventiva de articular conhecimentos de campos diferentes em uma experiência estética de fruição e formação simultâneas”, explica Mônica Medeiros Ribeiro, coordenadora geral do evento e professora da Escola de Belas-Artes (EBA).
Desvios e ‘erros’
“No caso das oficinas, buscamos trazer pessoas que trabalham promovendo o diálogo entre mais de um campo de conhecimento e que praticam esse trânsito em suas atividades artísticas”, exemplifica Mônica Ribeiro. Um exemplo é a oficina Dança e filosofia: exercício da dúvida, em que a filósofa e dançarina Adriana Banana mobiliza o postulado filosófico de Descartes como método para o trabalho com a dúvida nas movimentações corporais próprias da dança. “Buscamos reafirmar a importância do procedimento da experimentação nos processos de criação e na sala de aula”, explica Mônica.
Leda Martins destaca a experimentação e o viés formativo e inclusivo como singularidades do Festival de Inverno da UFMG. “Em cinco décadas, o evento não cedeu à tentação de se conformar àquilo que o mercado exige. Ele mantém a marca de sua diferenciação. Não por outro motivo, foi o berço de grupos que têm hoje renome nacional e internacional”, diz ela, citando Galpão, Uakti, Corpo e Oficcina Multimédia, grupos que nasceram no âmbito do Festival nos anos 1970 e 1980.
“O Festival inclui os desvios e os ‘erros’ também como lugares e acontecimentos que podem colaborar para a criação e o aprendizado tanto quanto o suposto ‘acerto’. Nesse sentido, o erro perde o seu caráter negativo. Ao lidar com ele, chego a um lugar aonde não previa chegar”
Mônica Ribeiro explica o contexto que possibilita o surgimento de produções criativas tão singulares. “O Festival inclui os desvios e os ‘erros’ também como lugares e acontecimentos que podem colaborar para a criação e o aprendizado tanto quanto o suposto ‘acerto’. Nesse sentido, o erro perde o seu caráter negativo. Ao lidar com ele, chego a um lugar aonde não previa chegar”, diz.
Toda a programação do 48º Festival de Inverno da UFMG é gratuita e aberta à comunidade da cidade, observados os pré-requisitos de cada atividade.
As notícias sobre o evento podem ser acompanhadas pelo site www.ufmg.br/festivaldeinverno e pelas redes sociais do evento: www.facebook.com/festivalufmg, www.twitter.com/festivalufmg e www.instagram.com/festival_ufmg.
Realizado pela Diretoria de Ação Cultural (DAC), o Festival de Inverno é integralmente custeado pela UFMG.
Nova epistemologia
O tema do Festival de Inverno de 2016 é Territórios culturais de trânsito – artes visuais, tradições, filosofias, performances, teatros, ciências, danças e artes audiovisuais. Busca-se, nesta edição, não só lançar luz sobre a vocação dos territórios culturais para o trânsito, mas também problematizar certa percepção de que o conhecimento estabelecido no âmbito da ciência moderna é o único a ter validade.
A ideia – engendrada e aprofundada há algumas edições do evento – é sugerir o pensar e o fazer artístico como dispositivo gerador de conhecimento. “Isso explica a opção da UFMG por manter a realização do evento mesmo em um contexto de crise econômica e de restrições orçamentárias. Aqui, os festivais são entendidos não apenas como entretenimento, mas como lócus de produção de conhecimento. A cultura e as artes são essenciais para a formação do nosso aluno, e o Festival é parte do projeto acadêmico da UFMG”, afirma Mônica.
“As Aulas Abertas serão realizadas em diferentes localidades da cidade, como as regionais do Barreiro e de Venda Nova e o Aglomerado Santa Lúcia, um avanço desta edição. No futuro, esperamos conseguir levar oficinas e eventos para outros territórios de Belo Horizonte”
Um dos destaques da programação são as Aulas Abertas, que serão ministradas de 18 a 22 de julho em diferentes largos e praças da cidade. Cada aula será realizada em três ocasiões e localidades diferentes, de forma a oferecer mais oportunidades de participação aos interessados. Haverá aulas de danças, canto, escrita criativa, expressão corporal, percussão e performance, com 1h30 de duração cada.
“As Aulas Abertas serão realizadas em diferentes localidades da cidade, como as regionais do Barreiro e de Venda Nova e o Aglomerado Santa Lúcia, um avanço desta edição. No futuro, esperamos conseguir levar oficinas e eventos para outros territórios de Belo Horizonte”, conta Leda. “Mas queremos não apenas levar as atividades, mas realizar uma interlocução de fato com esses territórios, que colaborem na própria formatação do Festival. Que atividades gostariam de sugerir para serem transplantadas para outros territórios? O circuito cultural que buscamos construir será resultado das respostas a essa pergunta.”
Show em homenagem a Nivaldo Ornelas e a abertura da exposição Mário Zavagli – Memória e paisagem, com retrospectiva representativa de sua obra, marcam a abertura do 48º Festival de Inverno da UFMG na noite de sexta-feira, 15, às 19h, no Auditório da Reitoria, no campus Pampulha. Apresentação de Nelson Ayres e da Geraes Big Band fecham a noite de abertura.
Endereços
UFMG – Campus Pampulha - Avenida Antônio Carlos, 6.627, São Luiz
Centro Cultural UFMG - Avenida Santos Dumont, 174, Centro
Conservatório UFMG - Avenida Afonso Pena, 1.534, Centro
Casa da Gravura EBA/UFMG - Alameda dos Jacarandás, 1.143, São Luiz
Teatro Francisco Nunes - Avenida Afonso Pena, s/nº, Parque Municipal, Centro
Barragem Santa Lúcia - Avenida Arthur Bernardes, s/nº, Santa Lúcia
Praça da Liberdade - Funcionários
Praça Floriano Peixoto - Santa Efigênia
Praça José Verano da Silva - Barreiro de Cima, região do Barreiro (perto da Avenida Olinto Meireles)
Praça Manoel Batista Baía - Mantiqueira, região de Venda Nova (perto da Rua José Félix Martins)