Universidade tem compromisso com dores e alegrias da sociedade, diz Pepe Mujica
Em fórum de direitos humanos da AUGM, ex-presidente uruguaio ressaltou papel dessa instituição na integração da América Latina
“A universidade que conta é a que eleva a qualidade do povo a que pertence”, defendeu José Mujica, presidente do Uruguai de 2010 a 2015, em apresentação feita no Salão de Honra da Casa Central da Universidade do Chile, na noite dessa terça-feira, 6 de dezembro. Na conferência, que integra a programação do 2° Fórum de Direitos Humanos da Cátedra de Direitos Humanos da Associação de Universidades Grupo Montevidéu (AUGM), Pepe Mujica tratou do tema Direitos humanos e democracias contemporâneas.
Ao tratar do papel das universidades na integração da América Latina, Mujica afirmou que “não há nada mais importante do que a vida das universidades”, mas alertou que “[a universidade] não pode ser uma flor de estufa, um requinte intelectual de um mundo exótico. Ela é um compromisso com as angústias, com as dores e com as alegrias de sua sociedade, é o lúmen pensante”.
Logo na abertura, após ser homenageado com a Medalha Reitoral da Casa de Bello, distinção máxima conferida pela Universidade do Chile, Mujica pediu: “Não me chamem de ex-presidente. Me chamem como meu povo me chama: Pepe.” “Estou aqui porque estou gastando os últimos cartuchos que me restam por um mundo que não verei e lutando pela integração da nossa América”, disse Pepe Mujica.
Ainda a propósito da integração dos países do continente, Mujica lembrou que “a civilização é filha da cooperação”. Ele disse ainda: “Nós é que temos que cultivar a democracia. A esquerda, a direita, o centro. Mas, para isso, devemos respeitar valores comuns. Façam tudo que for possível para não cultivar o ódio”, conclamou.
Aos 87 anos, o ex-presidente destacou que sua militância teve início bem cedo, aos 14 anos, e compartilhou uma percepção sobre a região: “Não há massa de população mundial como nós, que vivemos do Rio Grande para baixo e que, se falarmos devagar, conseguimos nos entender.”
Luta social
Ao defender a luta social como forma de vida, Pepe Mujica salientou que não falava apenas como acadêmico. “Continuo sendo um lutador social, e o mundo que teremos será o mundo que seremos capazes de criar e pelo qual vamos lutar”, disse. Para a construção desse mundo, segundo ele, “é necessário que as pessoas se comprometam, que deem uma causa à própria existência".
“Precisamos também de tempo para os afetos, porque não somos robôs, não somos máquinas. Somos um corpo de água com sensibilidade, a aventura da molécula, as coisas que palpitam sobre a terra, que sofrem, que choram, que têm afeto. Não somos uma pedra”, defendeu Mujica.
Universidades e futuro
Na abertura da conferência, a reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, atual presidente da AUGM – ela é a primeira mulher a presidir a associação em 30 anos de história –, convidou os presentes a "pensar como nós, universidades e países, podemos colaborar para construir juntos países que sejam melhores, mais justos, mais colaborativos e mais solidários”.
"As universidades são as instâncias que vão criar o futuro de nossos países. Não se pode criar um futuro sem as universidades. Este espaço tem um papel muito importante, porque não apenas formamos pessoas, como também estamos a serviço da sociedade e dos nossos povos. Juntos, podemos fazer muito mais”, defendeu.
Veja a conferência.