Relação hostil de Jair Bolsonaro com jornalistas é tema de entrevista no programa Conexões
Professor Camilo Aggio, do Departamento de Comunicação Social da UFMG, analisou a relação do presidente com a imprensa, em entrevista à Rádio UFMG Educativa
Um acontecimento movimentou bastante as redes sociais ao longo desta semana. No último domingo, 23, o presidente Jair Bolsonaro disse que estava com vontade de agredir um jornalista do jornal O Globo. A fala foi pronunciada após o repórter questionar Bolsonaro sobre os motivos para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, ter recebido em sua conta bancária R$ 89 mil, depositados por Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, e pela esposa de Queiroz, Márcia Aguiar.
Ao ser questionado, Jair Bolsonaro respondeu o seguinte: “Minha vontade é encher tua boca na porrada, tá?” Essa não foi a primeira vez que o presidente atacou jornalistas, mas o novo episódio vem sendo considerado por especialistas como mais grave do que os anteriores. Em entrevista ao Portal UOL, alguns profissionais da área do direito disseram que Bolsonaro poderia ser acusado de crime de ameaça.
Para o professor Camilo Aggio, do Departamento de Comunicação Social da UFMG e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Justiça e Democracia (Margem), não há nenhuma novidade nesse fato, ocorrido no último domingo. Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta quarta-feira, 26, ele defendeu que o ataque recente representa apenas a continuidade de uma postura já bastante característica da personalidade de Bolsonaro.
“Essa continuidade não diz respeito apenas ao comportamento hostil aos jornalistas durante o mandato. Isso é anterior. Há registros, os mais variados [de ações desse tipo por parte de Jair Bolsonaro]. Uma simples busca no Youtube vai mostrar muitas ocorrências em que Bolsonaro foi hostil, não apenas com jornalistas [homens], mas também com jornalistas mulheres, enquanto era deputado federal”, lembrou.
Na opinião de Camilo Aggio, a postura do presidente estimula e incentiva agressões a jornalistas por parte de seus apoiadores. “Palavras também fazem coisas. Os atos performativos da fala são atos de ação”, defendeu. “Quando estamos falando do presidente da República, estamos falando da autoridade máxima da República. O cargo ocupado por Jair Bolsonaro tem um peso simbólico muito poderoso”, complementou.
Desde domingo, a pergunta do jornalista sobre os depósitos feitos na conta de Michelle Bolsonaro foi publicada nas redes sociais por pessoas anônimas e famosas, como forma de protesto contra a reação do presidente. Por outro lado, apoiadores de Bolsonaro também se manifestaram nas redes sociais com ataques a profissionais da imprensa e chegaram a incentivar agressões físicas.
“Desta vez, tivemos um movimento espontâneo, de cidadãos comuns e influenciadores digitais, que se utilizaram desse expediente para fazer valer o enaltecimento da pergunta que incomodou profundamente Jair Bolsonaro, levando-o a hostilizar, mais uma vez, um jornalista. É um movimento de reação àquilo que o presidente disse, que ganhou uma amplificação muito grande”, avaliou Aggio.
Esse episódio, segundo o professor, serve para demonstrar que, ainda que incentivem bolsonaristas nos ataques a jornalistas, essas ações do presidente também causam reação de parte considerável da população que não se conforma com o comportamento do mandatário.