Pesquisador cubano discute interação da ciência da informação com outras disciplinas
A ciência da informação tem dois grandes desafios teórico-práticos: a compreensão de suas possibilidades de interação com disciplinas do próprio campo informacional, como a Biblioteconomia e a Arquivologia, e a fundamentação de seu caráter de ciência social. Essas questões compõem alguns dos temas centrais das aulas que o professor Juan Radamés Linares Columbié [foto], da Universidad de la Habana, Cuba, ministra esta semana na UFMG.
No breve curso, ele aborda a história do surgimento da ciência da informação, as variantes nacionais, a sistematização teórica e o projeto interdisciplinar do campo de conhecimento. “Não basta a descrição dos conteúdos e das características da ciência da informação. É preciso que essa abordagem esteja sempre acompanhada de fundamentação histórica e epistemológica. Afinal, a CI não apareceu por geração espontânea”, explica Columbié, um dos pesquisadores mais respeitados no cenário internacional, segundo sua anfitriã, a professora Cristina Dotta Ortega, da Escola de Ciência da Informação.
Radamés Columbié localiza a origem formal da ciência da informação no início da década de 1960, no mundo anglo-saxão, com forte influência do contexto da Guerra Fria. Mais ou menos na mesma época, os soviéticos desenvolveram seus métodos, com ênfase no tratamento e na difusão da informação, muito mais que no armazenamento.
Ele conta que Cuba assumiu conceitos e práticas da ciência da informação desenvolvida no leste – centralizada em um instituto estatal e concentrada nos aspectos científico e tecnológico –, já que estava sob influência política e econômica soviética. “Mas essa assimilação não foi acrítica, e nos inteiramos também da versão anglo-saxã. Por isso, quando caiu a União Soviética, não houve comoção no ambiente da ciência da informação cubana, estávamos conectados com o que se fazia em outros países”, conta Columbié, que é autor de diversos livros e trabalhos nessa área.
Campo promissor
O pesquisador defende que a ciência da informação não é, como muitos acreditam, a biblioteconomia do século 21. A biblioteconomia, segundo ele, tem autonomia acadêmica e intelectual; por outro lado, a ciência da informação é um campo extremamente promissor como plataforma transdisciplinar.
Para Cristina Ortega, a troca de conhecimentos com pesquisadores como Radamés Columbié contribui para o debate fundamental a respeito dos lugares específicos da graduação e da pós e de cada uma das disciplinas – biblioteconomia, arquivologia, museologia – dos pontos de vista da produção de conhecimento e da resposta prática às demandas da sociedade.
“É importante reconhecer os conhecimentos específicos de cada área e, ao mesmo tempo, saber quais são os aprofundamentos necessários na pós-graduação”, afirma Cristina, que é mestre e doutora pela USP e leciona no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da UFMG.
Em sua viagem ao Brasil, Radamés Columbié vai cumprir compromissos acadêmicos também em São Paulo e no Rio de Janeiro.