Pandemia expõe falta de planejamento histórico da indústria nacional
Professores da área de economia apontam fragilidades da indústria nacional no momento em que ela é necessária para produção de equipamentos como respiradores
O trabalho do Governo Federal para adquirir os respiradores pulmonares acendeu uma discussão sobre o papel da indústria nacional em tempos de pandemia. A União enfrenta dificuldades para importar esse equipamento da China, a maior produtora mundial, e teve que incentivar a formação de um consórcio de empresas para aumentar a fabricação nacional de respiradores. É uma luta contra o tempo e contra a histórica falta de planejamento nas políticas industriais brasileiras, segundo especialistas.
A falta desses equipamentos é uma das principais deficiências do sistema de saúde brasileiro para o combate à pandemia da Covid-19. Mas por que não se fabricam, aqui no Brasil, todos os respiradores de que precisamos? Para o professor do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG João Prates Romero, não temos capacidade produtiva suficiente.
Outra dificuldade do atual governo é o planejamento. Na avaliação do professor João Prates Romero, isso ocorre porque houve um desmonte das estruturas que poderiam ser utilizadas neste trabalho "em função do viés liberal do governo" com a incorporação do Ministério do Planejamento ao Ministério da Economia e o esvaziamento do BNDES.
No processo de aumento da capacidade de produção nacional, o Brasil ainda enfrenta a dificuldade de importação dos insumos necessários para a fabricação de respiradores, já que alguns países proibiram ou limitaram a exportação de peças e componentes. Na avaliação do professor de Direito Econômico da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Samuel Nascimento, o país sente o peso de uma guerra comercial e econômica e de uma indústria nacional fragilizada.
O professor da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP) Gilmar Masiero, defende que o problema do Brasil hoje não é o nível de especialização da indústria nacional, visto que outros materiais necessários durante a pandemia, como as máscaras, não carecem de tanta tecnologia. Para ele, o problema é a falta histórica de políticas públicas para a indústria nacional.