Grande Prêmio UFMG de Teses contempla pesquisas do ICB, da Engenharia Elétrica e da Música
Diagnóstico do Alzheimer, modelagem de sistemas dinâmicos em aprendizado de computador e musicalização de adultos com base na canção popular são os temas dos trabalhos
Emerson Fonseca, do Programa de Pós-graduação em Inovação Tecnológica Biofarmacêutica; Antonio Ribeiro, da Engenharia Elétrica, e Kristoff Silva, da Música, foram os vencedores do Grande Prêmio de Teses UFMG 2021. Os agraciados foram anunciados na tarde desta quinta-feira, 28, em cerimônia virtual. A premiação integrou a programação da 30ª Semana do Conhecimento UFMG.
Os autores das melhores teses de doutorado defendidas em 2020 foram escolhidos por comissões instituídas pela Câmara de Pós-graduação, entre as indicadas por seus respectivos programas, e reconhecidas com o Prêmio UFMG de Teses. Ao todo, foram 62 teses agraciadas, sendo 27 na área de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde (grupo 1), 13 na de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias (grupo 2) e 22 na de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes (grupo 3). Ao final, Emerson recebeu o Grande Prêmio no grupo 1, Antonio foi o vencedor no grupo 2 e Kristoff foi o autor da melhor tese do grupo 3.
A cerimônia foi conduzida pela pró-reitora adjunta de Pós-graduação, Silvia Alencar, que deu detalhes sobre o premiação e elogiou o nível dos trabalhos indicados. "Além dos grandes vencedores em cada grande área, cada comissão decidiu recomendar duas menções honrosas por grupo, o que não nos surpreendeu, dada a qualidade dos trabalhos", destacou a professora.
Nas palavras do decano do Conselho Universitário no exercício do Reitorado, João Alberto de Almeida, o Grande Prêmio é o “ponto culminante” da Semana do Conhecimento. “O evento revela um pouco da qualidade do que é produzido aqui. Neste momento, a Universidade pode se orgulhar da missão que está cumprindo”, comentou.
O pró-reitor de Pesquisa, Mário Montenegro Campos, sublinhou a importância de reconhecer o trabalho realizado pelos estudantes de doutorado da UFMG. “As realizações desses jovens demandaram muita garra, por conta do período das adversidades decorrentes do contexto de pandemia e também dos desinvestimentos em ciência no nosso país.”
Sinais do Alzheimer
Identificação e caracterização da proteína β-amiloide em camundongos bitransgênicos para Alzheimer através de espectroscopia raman – primeiro passo para o estabelecimento de uma plataforma de espectroscopia intraocular para fins de diagnóstico precoce é o título da tese de Emerson Fonseca.
De acordo com o autor, o Alzheimer, demência mais comum no mundo, está relacionada ao acúmulo da proteína β-amiloide no meio extracelular cerebral, o que forma placas. Esse processo leva de dez a 20 anos, até atingir um ponto crítico, em razão da morte neuronal. “Estudos mostram que essas placas aparecem na retina bem antes de o processo iniciar no cérebro, o que torna a retina um meio diagnóstico, por via do exame intraocular”, explicou.
Em sua pesquisa de doutorado, Emerson conseguiu identificar vários sinais Raman que especificam a placa β-amiloide no tecido. “Mapeamos todas as frequências possíveis para identificar e produzir imagens de placa, identificar o DNA e a borda de lipídio que indica a degeneração. O exame, procedido em camundongos, se mostrou capaz também de diferenciar os animais jovens dos velhos”, completou. O trabalho foi orientado pelo professor Ado Jorio de Vasconcelos. Assista à apresentação em vídeo feita pelo autor.
Modelos não lineares
A tese Aprendendo modelos não lineares diferenciáveis para sinais e sistemas: com aplicações, de autoria de Antonio Ribeiro, “focou no desenvolvimento de métodos para aprender, a partir de dados, as relações que regem o comportamento de um sistema dinâmico ou de uma série temporal”.
De acordo com o autor, a parte mais aplicada da tese consiste no uso de redes neurais profundas para resolver tarefas complexas e modelar comportamentos não lineares a partir de dados reais. Como explicou Antonio Ribeiro, foi demonstrado que a performance do modelo é comparável à de residentes do quarto ano da especialização em cardiologia. “Acredito que esse tipo de modelo possa fazer parte da próxima geração de métodos para o diagnóstico automático do eletrocardiograma, auxiliando os médicos cardiologistas”, enfatizou o autor, que foi orientado pelo professor Luís Antônio Aguirre.
A rede neural profunda também pode ser usada para modelar um oscilador eletrônico e uma aeronave F-16, usando dados de ensaios de vibrações, obtendo resultados competitivos.
Assista ao vídeo de apresentação do trabalho.
Semiótica da canção
A tese Afinação da interioridade – um estudo sobre a integração da canção popular brasileira à musicalização de adultos foi desenvolvida por Kristoff Silva, sob orientação da professora Heloísa Faria Braga. Como detalhou o autor, a discussão teórica sobre o cotejo entre os domínios da canção popular e da musicalização de adultos se desdobrou em uma coleção de estratégias pedagógicas “atentas à restituição da dimensão artística no processo de ensino e aprendizagem”.
“Além de uma estratégia de aproximação da experiência musical efetiva, a canção popular suscita a participação de um aparato tecnológico, uma vez que ela é fortemente ligada aos processos de gravação em estúdio”, lembrou. De acordo com Kristoff, isso causa uma sensível mudança no modelo de aula de música que temos hoje. “O tradicional piano de armário das aulas de percepção musical dá lugar a amostras extraídas das próprias gravações das canções, que são tocadas em loop, em software apropriado. Esse loop servirá de referência harmônica e rítmica para improvisações vocais. A partitura também cede um pouco da sua onipresença como mediadora da percepção musical, possibilitando mais desenvolvimento da memória”, ilustra.
Assista ao vídeo em que o autor dá detalhes do seu trabalho.
Menções honrosas
Cinco trabalhos foram reconhecidos com menções honrosas no Prêmio UFMG de Teses.
No grupo de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde, foi contemplado o trabalho de Rodrigo Machado Florentino, intitulado Expressão de receptores de inositol 1,4,5-trifosfato do tipo 3 é um evento final comum ao desenvolvimento do carcinoma hepatocelular, sob orientação da professora Maria de Fátima Leite. A tese foi defendida no Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas.
Outra menção honrosa no mesmo grupo foi concedida à tese Toward a more comprehensive understanding of fog foliar water uptake, de autoria de Daniela Boanares de Souza, com orientação de Marcel Giovanni Costa.
Filomeno Soares de Aguiar, do Programa de Pós-graduação em Física, é autor da tese Correlações quânticas no espelhamento Raman Stokes e anti-Stokes: o equivalente fotônico dos pares de Cooper, orientada por Ado Jorio de Vasconcelos. Ela foi reconhecida no grupo das Ciências Exatas, Ciências da Terra e Engenharias.
Premiado no mesmo grupo, Artur Lima Correia é o autor da tese Partial least squares: a deep space Odyssey, defendida no Programa de Pós-graduação em Ciência da Computação e orientada pelo professor William Robson Schwartz.
A menção honrosa no grupo de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes foi atribuída à tese Eficácia escolar sobre o aprendizado em matemática: um estudo longitudinal sobre o efeito das escolas municipais de Belo Horizonte, de autoria de Túlio Silva de Paula. O trabalho foi orientado pela professora Maria Teresa Gonzaga Alves e defendido no Programa de Pós-graduação em Educação – Conhecimento e Inclusão Social.
Também foi agraciada, nesse grupo, a tese Mercado de acesso: entre diagnósticos e propostas, de autoria de Fernanda Versiani. Vinculado ao Programa de Pós-graduação em Direito, o trabalho foi orientado por Marcelo Andrade Féres.
A pós-graduação em debate
Pouco antes da entrega dos prêmios, líderes de agências de fomento analisaram o sistema brasileiro de pós-graduação. Segundo o presidente do CNPq, Evaldo Vilela, tornaram-se mais rígidos os critérios para concessão de verbas para programas de pós-graduação. “Mudamos a lógica: não podemos mais ficar contando artigos científicos. A verba ficou mais condicionada à previsão resultados e entregas. Temos que saber qual é o valor do projeto e da equipe, e sua proposta”, relatou.
O presidente da Fapemig, Paulo Beirão, disse que a criação de mecanismos para que o conhecimento gerado na academia seja apropriado por setores da sociedade ainda representa um grande desafio. “Muitas vezes, já existem nas universidades as soluções demandadas por empresas, setor público ou ONGs. Mas elas não são compartilhadas por falta de meios de transferência do conhecimento”, alertou.