Opinião

Estamos on-line em casa. A internet vai “quebrar”?

Em artigo, professor da Fafich analisa limites da infraestrutura de web em tempos de pandemia

"Em geral invisibilizada, a dimensão material da internet tem ganhado o centro das discussões, pois aumentam as dúvidas sobre sua capacidade de suportar o crescente aumento de tráfego de dados no prolongado período de isolamento social"Edilson Rodrigues / Agência Senado / Fotos Públicas

A eclosão da pandemia de Covid-19 e o acelerado isolamento social de parte da população de dezenas de países estão sendo acompanhados por uma renovada adesão a diferentes serviços on-line. Novas listas de conteúdos selecionados a dedo passaram a circular, plataformas audiovisuais antes restritas, como a Globoplay, tiveram o acesso liberado, e proliferam ainda lives protagonizadas por artistas, intelectuais e influenciadores digitais.

Ao mesmo tempo, nota-se uma explosão das atividades (de certa forma improvisadas) de trabalho remoto e educação a distância por meio de plataformas como Zoom e Google Meet (esta teve o uso liberado em vários países, inclusive o Brasil). Acrescenta-se a esse cenário o uso em profusão de aplicativos que nos possibilitam continuar “próximos” a parentes e amigos. Durante a pandemia, o número de ligações pelo WhatsApp dobrou em países como a Itália, segundo afirmou Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, em uma conferência de imprensa na quarta, dia 18.

Dia a dia fica mais evidente que a possibilidade de aliviarmos parte do nosso angustiante período de reclusão com horas adicionais de séries e com conversas on-line esbarra em um desafio concreto: as limitações na infraestrutura instalada em cada país ou região. Em geral invisibilizada, a dimensão material da internet tem ganhado o centro das discussões, pois aumentam as dúvidas sobre sua capacidade de suportar o crescente aumento de tráfego de dados no prolongado período de isolamento social. 

Os percentuais variam de acordo com o início e a intensidade da quarentena: na Itália, o consumo via redes fixas já dobrou, enquanto no Reino Unido aumentou em 30%. Nos EUA, levantamento da BroadbandNow indica que, embora em cidades como Nova York já haja queda na qualidade do serviço, o impacto geral ainda é baixo.

A discussão mais significativa sobre como lidar com os limites da infraestrutura da internet em meio à pandemia de Covid-19 está em curso no âmbito da União Europeia. No dia 18 de março, Thierry Breton, comissário da UE, anunciou em sua conta no Twitter um acordo com o CEO da Netflix para que a plataforma diminuísse em 25% a resolução de seus vídeos, abdicando da qualidade HD. Para minimizar o “tensionamento” (termo usado por Breton) das infraestruturas, foi improvisada a campanha #SwitchToStandard, que obteve depois a adesão do YouTube, Amazon Prime e da Apple TV.

o lançamento da plataforma de filmes Disney+ na França foi adiado para abril, a pedido do governo francês. Em alguns outros países europeus – incluindo Itália e Espanha, epicentros da pandemia no continente –, foi mantido o lançamento agendado para sexta, dia 24 de março, mas acordou-se a redução de 25% no tráfego de dados. No Reino Unido, a preocupação inclui a possível oferta de conteúdos educacionais pela BBC.

No Brasil, matéria publicada pela Folha de S.Paulo mostrou que, ao final da primeira semana de quarentena, houve um aumento médio de 40% no tráfego de internet banda larga fixa das principais operadoras do país. Segundo apuração do jornal, picos entre 150% e 200% provocariam a “falência da rede”. Em entrevista ao Convergência Digital, Milton Kaoru Kashiwakura, do NIC.br, afirma que o recorde de tráfego não é motivo de preocupação imediata, pois a capacidade dos grandes provedores seria o dobro da efetivamente utilizada no momento. Apesar disso, revela a matéria, em São Paulo “as autoridades já estudam qual o melhor horário para adotar aulas a distância mesmo na rede pública”.

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Carlos d'Andréa / Professor do Departamento de Comunicação Social da UFMG