Em recepção aos calouros, dirigentes defendem resiliência e cuidado para superar dificuldades
Ensino remoto emergencial foi a saída encontrada pela UFMG para garantir a oferta de atividades acadêmicas com segurança sanitária
Coração palpitando e cheio de expectativas, uma mistura de insegurança e ansiedade. Afinal, foram horas e horas de estudo, determinação e abnegação para não perder o foco na aprovação em uma das melhores universidades públicas do Brasil e da América Latina. Mas valeu a pena. Hoje, três mil estudantes iniciam uma vida nova nos cursos de graduação da UFMG, com o ineditismo do ensino remoto emergencial adotado pela Universidade para manter suas atividades acadêmicas enquanto durar a pandemia do novo coronavírus e o necessário distanciamento social.
Em solenidade virtual de boas-vindas aos calouros nesta segunda-feira, dia 30, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida reafirmou o que tem dito nos últimos meses sobre a importância do distanciamento: “Sabemos que vocês estão ansiosos para o contato presencial com colegas, professores e para desfrutar dos espaços da UFMG. Mas ainda não é o momento para isso, porque o nosso compromisso e a nossa prioridade são com a preservação da vida de todas as pessoas. As autoridades sanitárias é que nos dirão quando poderemos retornar, com base nos dados científicos sobre a pandemia”.
“O início de uma nova vida para vocês, conforme diz o próprio lema da UFMG, Incipit vita nova, é o que também vivenciamos a cada semestre. Mas neste momento excepcional, isso se dará de forma virtual. Certamente, uma nova vida se reveste de grandes desafios. Mas estamos aqui como uma rede de apoio a vocês nessa travessia”, acrescentou.
A adoção do ensino remoto emergencial, conforme ela explicou aos estudantes, é uma das formas que a Universidade encontrou para adaptar as práticas pedagógicas, atividades de ensino, pesquisa e extensão e fortalecer o vínculo com sua comunidade acadêmica. “Desde março, após a suspensão das atividades presenciais, vivenciamos momentos de intenso compartilhamento de experiências e colaboração entre a equipe gestora, professores, servidores técnico-administrativo e os próprios estudantes, na busca pelo fortalecimento das políticas de assistência e permanência estudantil, inclusão e inclusão digital”, pontuou.
A cooperação e a solidariedade foram atitudes ressaltadas pela reitora, como necessárias para a travessia deste período, e isso vale também entre os países, na busca, por exemplo, de uma vacina eficaz contra o novo coronavírus. Ela se solidarizou com amigos e familiares das mais de 160 mil vítimas mortas pela covid-19 no país e das mais de 10 mil em Minas Gerais.
Após apresentar a equipe gestora diretamente relacionada às questões do corpo discente – representada pelo vice-reitor, Alessandro Fernandes Moreira, e pelos pró-reitores de Graduação, Benigna Oliveira, de Extensão, Claudia Mayorga, e de Assuntos Estudantes, Tarcísio Mauro Vago –, Sandra Goulart Almeida orientou os estudantes a conhecer os programas de assistência, inclusão e acessibilidade, inclusão digital e as redes de apoio da UFMG, inclusive a rede de saúde mental.
Sandra Goulart Almeida também convidou os novos estudantes a se informarem sobre as notícias relacionadas às pesquisas, avaliação e ações de extensão da Universidade, como a recente premiação pelo maior número de testes de covid-19 realizados para a rede pública. E destacou a atuação conjunta com outras instituições públicas para minorar o sofrimento das comunidades de Mariana e Brumadinho, vítimas do rompimento de barragens da Samarco e da Vale.
Novo sentido de estudar
Diante da impossibilidade de se encontrarem presencialmente com colegas e professores, os calouros devem focar no entusiasmo, na resiliência e no cuidado. Essa foi a recomendação dada pela professora Cláudia Lins Cardoso, do Departamento de Psicologia da Fafich.
“Entusiasmo significa motivar a ação e fazer a escolha ter mais sentido. Até o sentido de estudar mudará daqui em diante. O estudo agora será para apender e se capacitar como profissional. Vocês precisam se conectar com o que pretendem daqui a dez anos, numa semeadura que começa agora. E, na UFMG, a indissociável tríade ensino, pesquisa e extensão é uma possibilidade para o enriquecimento dessa formação”, instigou.
Para a professora, a resiliência é importante em momentos de crise, quando o encontro entre expectativas, desejos e a realidade pode trazer frustração, desânimo, dúvidas e até um certo sofrimento. "Mas pode também ser fonte de amadurecimento e aprendizado, dependendo de como você escolhe lidar. O importante é lembrar que tudo isso vai passar, por mais difícil que esteja", afirmou.
Sem vergonha de pedir ajuda
A pandemia acarreta sofrimento, pois expõe a fragilidade da condição humana, o que, na visão da professora Claudia Lins, reforça a necessidade do cuidado. "Se você passar por um momento crítico, por uma situação que o faça sofrer, peça ajuda, não se envergonhe. Converse com os colegas, compartilhe com alguém que o queira bem. Se não for suficiente, busque ajuda especializada, como a Rede de Saúde Mental da UFMG, que oferece programas de acolhimento e orientação, núcleos de escuta, assistência e atendimento psicológico”, afirmou a professora, que coordena o Serviço de Plantão Psicológico (SPA).
"Cuidado é tarefa rica e potente e não deve ser de alguns, mas de todos nós. E para alcançarmos uma universidade cuidadosa, precisamos desse olhar peculiar, de um para o outro, para tecermos as relações, como nos ensinam os povos indígenas”, acrescentou a professora Érica Dumont, da Escola de Enfermagem.
Embora o cuidado esteja no centro das atenções das pessoas – atualmente, elas saem de casa e usam máscaras para também proteger o outro –, a lógica da sociedade, ressaltou Érica Dumont, ainda é marcada por competição e individualismo e mesmo pela disputa que leva um estudante à aprovação no vestibular. "Trata-se, no entanto, de uma falsa ideia de independência, pois não conseguimos viver sem ajuda dos outros. Precisamos estabelecer uma relação de troca. Isso é cuidado”, afirmou.
Desafios além da técnica
De acordo com a professora Maria José Flores, da Faculdade de Educação (FaE) e diretora de Inovação e Metodologias de Ensino (Giz), o ensino remoto – em situação emergencial, não devendo, pois, ser confundido com educação a distância – traz desafios que vão além da dimensão técnica. "O momento exige entusiasmo, resiliência, cuidado e quietude", defendeu.
Segundo ela, “a oportunidade de escuta mútua, outro ensinamento dos povos indígenas, é fundamental para essa inserção na vida universitária, que se faz de maneira diferente, mas com todos juntos na mesma situação".
A professora chamou a atenção dos calouros para a sala de aula como o lugar de encontro, mesmo virtual. "É nas aulas síncronas – ao vivo, como vocês mesmos já batizaram – ou assíncronas, disponíveis nas plataformas de ensino, que se dá a relação entre professor, estudante e conhecimento. Portanto, uma não dispensa a outra, mesmo não sendo exigida a aferição de assiduidade, conforme está regulamentado para o ensino remoto emergencial."
“Agora vocês estão construindo sua carreira, num contexto que a própria condição de inserção profissional é incerta. Então, comecem a organizar sua forma de estudar, conhecendo as possibilidades oferecidas pela UFMG”, orientou Maria Flores.
Programas e tutoriais sobre as plataformas estão disponíveis no site Integração Docente. As demais informações sobre a vida acadêmica, programas de assistência e inclusão digital, programação cultural e funcionamento da universidade estão no site Viver UFMG.
O Ars Nova – Coral da UFMG encerrou a solenidade com uma apresentação especial de boas-vindas.