Cultura institucional é a aposta para vencer desafios, defende Hugo Cerqueira
Ele e a professora Kely de Paiva assumiram a direção da Faculdade de Ciências Econômicas
Palavras “de esperança e de alento” foram escolhidas pelo professor Hugo Eduardo Araújo da Gama Cerqueira para encerrar seu discurso de posse como diretor da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), em solenidade na manhã desta terça-feira, 27, no campus Pampulha. Com mandato no período 2018-2022, ele e a vice-diretora Kely César Martins de Paiva assumiram os cargos, ocupados nos últimos quatro anos respectivamente pelas professoras Paula de Miranda Ribeiro e Lízia de Figueiredo.
Após destacar sua convicção no papel central que a universidade pública exerce na construção de uma sociedade democrática, à altura dos ideais de liberdade, justiça e solidariedade proclamados na Constituição, Hugo Cerqueira disse apostar nos valores públicos e na cultura institucional que orientam a história da Face e da UFMG para que sejam encontradas respostas aos muitos desafios do tempo presente. “Apesar das ameaças e ataques, dos temores e incertezas que nos assombram nesta quadra”, ponderou, “vamos adiante, de mãos dadas, fabricando certezas e esperanças, que até a mais longa das noites sempre acaba em dia.”
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida também optou por evitar o pessimismo. “Para além dos ciclos de eterno retorno, há uma sociedade que caminha à frente, que se complexifica, que se diversifica, que se coloca o desafio da institucionalização da cidadania”, disse. Ela chamou atenção para a especial relevância da universidade no quadro que se desenha, pois embora seja uma instituição “particularmente vulnerável, por lidar só e simplesmente com matéria tão sensível como o conhecimento, a razão, a crítica e a divergência”, é também sempre resiliente, “em virtude de sua complexidade, de sua diversidade e de sua conectividade”.
"Na UFMG, a incerteza convive com um ambiente em constante transformação que nos enche de orgulho, com novos projetos que nossa comunidade não para de gestar", disse a reitora. E citou a diversidade de novos sujeitos, cuja inserção requer um esforço da instituição para “reconhecer e acolher novas identidades, novas coletividades, novas demandas, para ouvir e ressoar novas vozes”.
A reitora destacou também a diversidade de áreas do conhecimento aqui abrigadas, bem como a articulação entre ensino, pesquisa e extensão, produzindo a síntese entre relevância social e referência acadêmica, “e singularizando cada vez mais a contribuição específica desta instituição para a sociedade”.
A terra, o homem, a luta
A nova gestão foi saudada pelo professor João Antônio de Paula, que chamou atenção para a gravidade do momento presente, “que não pode ser subestimado e que vai exigir muito de nós, da Faculdade, da Universidade e da cidadania que se recusa a se sujeitar ao despotismo e à ignorância”. Por essa razão, procurou transformar o momento, "que poderia ser apenas festivo, de homenagens e alegrias, também em espaço de reflexão, crítica e mobilização”, disse.
João Antônio de Paula afirmou ainda que se os tempos atuais são turbulentos, “é preciso acreditar que seremos capazes de arrancar alegria ao futuro”. O professor guiou seu discurso a respeito da nova gestão com base na obra Os sertões, de Euclides da Cunha, fazendo um paralelo entre as divisões do livro – a terra, o homem, a luta – com a UFMG e a Face, o professor Hugo Cerqueira, e os tempos atuais, “no quais as ameaças contra a universidade pública brasileira são reais e devem receber de nós firme e permanente repúdio”.
Tanto João Antonio de Paula quanto Hugo Cerqueira falaram sobre a relevância da Faculdade de Ciências Econômicas, criada em dezembro de 1941, como parte de um amplo movimento de modernização social, econômica e cultural que Belo Horizonte experimentou naquele período.
O novo diretor destacou que, nesses 70 anos, a Face contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da UFMG, instituição à qual se incorporou em 1948, quando ainda se chamava Universidade de Minas Gerais. “No plano acadêmico e no plano político, a Face criou para si uma cultura institucional marcada pela busca da excelência acadêmica, pela promoção do interesse público, pelo estímulo ao diálogo entre as diferentes áreas e pelo respeito e valorização da diversidade de orientações teóricas e ideológicas”, enumerou Hugo Cerqueira.
Ele citou os avanços alcançados na Faculdade nos últimos dez anos – como expansão dos cursos, crescimento do número de alunos de graduação e de pós-graduação e inclusão de estudantes egressos do ensino médio público – e mencionou as ameaças a essas transformações: redução de recursos orçamentários destinados ao ensino superior e à ciência e tecnologia, ataques à autonomia universitária e à liberdade de cátedra e “o quadro de intolerância e de polarização em torno de posições que parecem não se deixar tocar pela crítica e pela argumentação racional”.
Para o professor Hugo Cerqueira, “no momento crítico que o país atravessa, de regressão social, econômica e política, torna-se ainda mais importante afirmar nosso compromisso com estes valores democráticos e insistir na Universidade como instituição voltada para a promoção da emancipação humana e da cidadania plena”.
Esse ambiente se constitui em uma instituição “que se abre para a diversidade, que acolhe as diferenças, pesquisa e reflete sobre a sociedade que queremos construir, capacita as pessoas a empreender projetos inovadores e transformadores e a realizar plenamente suas potencialidades.”
Gratidão
A professora Paula de Miranda Ribeiro deixou o cargo enumerando momentos importantes da sua trajetória e destacando sua gratidão ao apoio recebido de pessoas e setores diversos da Universidade, não apenas nos últimos quatro anos de gestão, mas também no mandato anterior, em que foi vice-diretora da Face. Ela e a professora Lízia de Figueiredo foram saudadas pelo professor Fausto de Brito, decano do colegiado da Face.
Na solenidade de posse da nova diretoria, o hino nacional brasileiro foi interpretado pela Bateria Inflacionária, composta de alunos da Faculdade. A nova gestão foi homenageada pelo professor Maurício Freire, da Escola de Música, com a execução, em flauta, da peça Dança dos espíritos bem-aventurados, de C.W. Gluck.