'Corrigir assimetrias na pesquisa traz equidade social', afirma Dalila Oliveira, do CNPq
Diretora de cooperação institucional do órgão e professora emérita da UFMG ministrou a palestra de abertura do 40º Encontro Nacional dos Pró-reitores de Pós-graduação e Pesquisa
Os desafios relacionados às diferenças regionais e culturais para o desenvolvimento da ciência no país foram abordados na palestra A ciência no enfrentamento das assimetrias e iniquidades e a promoção de complementaridades, ministrada pela professora emérita da UFMG e diretora de Cooperação Institucional, Internacional e Inovação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Dalila Oliveira. A conferência abriu os trabalhos do 40º Encontro Nacional dos Pró-reitores de Pós-graduação e Pesquisa, que prossegue até amanhã, 14, e reúne mais de 200 pró-reitores de universidades públicas, privadas e confessionais de todas as regiões do Brasil.
Dalila iniciou sua fala destacando que as agências de fomento à pesquisa e as universidades têm, como principal desafio para os próximos anos, de superar o retrocesso que a pesquisa brasileira sofreu no governo anterior. A professora afirmou que o desenvolvimento científico é importante para que o país tenha soberania e consiga enfrentar a desinformação.
“O negacionismo surgiu a partir das discussões relacionadas às mudanças climáticas, mas acabou ultrapassando esse espaço. Sabemos que nenhuma ciência é neutra. A ciência que criou a bomba atômica por motivos políticos, e acabou matando tantas pessoas, é a mesma que salva vidas. Então precisamos desenvolver nossa produção científica para combater o negacionismo e diminuir as desigualdades. Corrigir as assimetrias na pesquisa traz equidade social", disse.
A professora destacou que o CNPq e demais órgãos relacionados à ciência no Brasil precisam desenvolver suas atividades de acordo com o planejamento do governo federal, explícito no Plano Plurianual (PPA) 2024-2027. “A ciência deve permear todas as prioridades e objetivos do PPA. Trata-se de uma agenda transversal que dialoga com todos os setores e atores sociais e vai ao encontro da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o período 2023-2030 do governo federal.”
Olhar de estranhamento para a injustiça
Segundo Dalila, o desenvolvimento científico só é válido quando acompanhado de justiça social. Para a professora, as políticas públicas de ciência do país devem priorizar o enfrentamento de três desigualdades: a social, a racial e a de gênero.
“Nosso país se formou em cima da escravidão, da opressão e do genocídio, então temos uma enorme dívida com amplos segmentos da população. Os recursos ainda estão concentrados em uma pequena parcela da população, e isso está refletido nos espaços onde se produz ciência. O ambiente de ciência, tecnologia e inovação ainda é predominantemente masculino e branco, e temos que olhar com estranhamento para o fato de que há poucos negros e mulheres nesse ambiente".
Dalila apresentou dados do CNPq que mostram que a maior parte dos recursos da agência são investidos nas regiões Sudeste e Sul do país. Os institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) seguem o mesmo padrão de concentração, visto que 112 dos 202 INCTs existentes no país estão localizados na região Sudeste.
“Nossa infraestrutura de pesquisa está muito concentrada do ponto de vista geográfico. Se queremos pensar em um país forte e com democracia que não seja apenas eleitoral, precisamos democratizar o conhecimento e as condições de acesso a ele. É disso que falamos quando nos referimos ao enfrentamento de assimetrias e iniquidades", destacou a diretora.
Ciência implica confiança
O 40º Encontro Nacional dos Pró-reitores de Pós-graduação e Pesquisa é vinculado ao Fórum Nacional de Pró-reitores de Pós-graduação e Pesquisa (Foprop). A programação inclui palestras, debates, oficinas e apresentações de representantes de entidades como a Rede Nacional de Pesquisa (RNP) e editoras como a Elsevier.
O vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, que presidiu a mesa de abertura, destacou que a diversidade das instituições de ensino e pesquisa no país deve ser usada em prol do desenvolvimento científico e tecnológico. Ele pontuou que a sustentabilidade também deve estar presente nas discussões que serão realizadas ao longo do encontro. “A ciência se engrandece com as nossas diferenças. Além de debatermos essa diversidade, vamos focar outro ponto importante que é a sustentabilidade, pois as políticas públicas relacionadas à ciência e à pós-graduação precisam ser sustentáveis. Esse é um tema comum que precisa ser discutido não apenas sob a ótica ambiental, mas também tendo em vista as nossas relações e a nossa governança”, disse.
Também na mesa de abertura, a presidenta da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Denise Pires de Carvalho, destacou que as agências de fomento foram criadas por pesquisadores visionários que entendiam a importância da pesquisa para o desenvolvimento de um país.
“Não há saída para um país desenvolvido, como o que sonhamos, sem o trabalho da pesquisa e da produção de conhecimento. A ciência não é uma questão de fé, é uma questão de confiança. Oswaldo Cruz questionou se somente as nações fortes podiam fazer ciência ou se era a ciência que as tornava fortes. Devemos refletir sobre isso se pretendemos ser mais independentes cientificamente”, afirmou.
Também participaram da abertura do evento o presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Odir Antônio Dellagostin, o presidente do Foprop, Charles Morphy, o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), Carlos Arruda, a pró-reitora de Pós-graduação da UFMG, Isabela Pordeus, e o pró-reitor de pesquisa da Universidade, Fernando Reis.
Outras informações sobre o encontro estão disponíveis no site do evento.