Conceitos-chave da Estética são esmiuçados em livro de professores da UFMG
Na última terça-feira, 16, o Sesc Palladium, em Belo Horizonte, abrigou o lançamento da coletânea O trágico, o sublime e a melancolia, que reúne série de ensaios sobre esses três conceitos-chave da Estética, ainda vistos como fundamentais para a compreensão do complexo na contemporaneidade.
Editada em dois volumes, a coletânea foi organizada por Debora Pazetto, professora no Cefet-MG, Rachel Costa, professora na Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) e Verlaine Freitas, docente do Departamento de Filosofia da Fafich. Os três são doutores em estética e filosofia da arte pela UFMG.
O livro é um desdobramento do 12º Congresso Internacional de Estética, realizado na UFMG no fim de 2015. Durante o lançamento, os três organizadores vão protagonizar debate aberto sobre arte contemporânea.
Na obra, figuram ensaístas como Jeanne Marie Gagnebin, Pedro Süssekind, Rodrigo Duarte, Christian Bauer, Virginia Figueiredo, Taisa Palhares, Susanne Kogler, Luciano Gatti e Martha D’Angello.
Múltiplas abordagens
Nos volumes, a melancolia é observada pela perspectiva histórica, psicanalítica e das artes, como o cinema, a escultura e o teatro, e ainda se vale de dispositivos como o exílio.
O sublime, por sua vez, é explorado por perspectivas como a tecnológica, a bélica, a feminista, a artística, além de considerar perspectivas como a do absurdo, a do terror e a do mercado.
O trágico, por fim, recebe abordagens conceitual, artística, histórica, política, filosófica e psicanalítica. A referência é o entendimento alemão (e não o aristotélico, ainda que um parta do outro) que se têm do conceito, forjado no século 18, na esteira do surgimento da Estética como disciplina.
Nas abordagens do trágico, o teatro emerge naturalmente como expressão artística privilegiada. Nas do sublime, as artes visuais preponderam como mote analítico. As reflexões sobre a melancolia priorizam a escrita como objeto.
Integrante do trio de organizadores, Rachel Costa explica que, apesar de oriundos de pesquisas no campo da filosofia, os ensaios interessam pesquisadores de áreas diversas. “As abordagens geram relações com as letras, com as artes, com a história, com a antropologia e com outras áreas das ciências humanas", exemplifica.
Além das reflexões particulares, os três conceitos aparecem relacionados no segundo volume, inclusive, por meio de uma discussão do campo da teoria crítica.
Atualidade estética e tragédia brasileira
Além do organizador, outros três professores da UFMG contribuem com artigos. Virgínia Figueiredo, da Faculdade de Letras, faz, na primeira parte da obra, minuciosa discussão sobre o conceito de trágico, no texto A origem do trágico, segundo Schiller. “Nele, a autora defende não somente a vigência ou a atualidade estética do conceito de trágico, mas também explora a fecunda contribuição desse mesmo conceito aos pensamentos sobre a vida, sobre a existência e até mesmo sobre a história”, assinalam os organizadores, no prefácio da obra.
O professor Rodrigo Duarte, do Departamento de Filosofia da Fafich, faz uma abordagem politizada do conceito de trágico no texto Tragédia da cultura ao quadrado. Reflexões, com Vilém Flusser, sobre a situação do intelectual brasileiro, em que associa a análise de Simmel sobre o conceito de cultura com a tragicidade da cultura brasileira expressa por Vilém Flusser, no clássico Fenomenologia do brasileiro.
Em O novo, o absurdo e o sublime, Verlaine Freitas, também do Departamento de Filosofia, descreve a radicalização que a arte moderna faz da ideia de novo, que se contrapõe à noção de tradição, tendo como princípio constitutivo a radicalidade do “absolutamente moderno”, como definem os organizadores no texto de apresentação.
No campo das artes visuais, o professor Fábio Roberto Rodrigues Belo, do Departamento de Psicologia da Fafich, escreveu, junto com Michelle Aguilar Dias Santos e Alice Portugal Ferreira, o ensaio A sublimação da carne: análise da série ‘Charques’, de Adriana Varejão. À luz da psicanálise, o trio examina as hipóteses de Laplanche sobre a sublimação, tendo como objeto a série produzida pela artista carioca.
Raquel Costa, da Uemg, que recentemente trabalhou como docente substituta na Escola de Belas Artes, retoma, em A sublime imaterialidade da arte contemporânea, a discussão sobre o sublime empreendida por François Lyotard para discutir o conceito de representação na arte contemporânea.
Livro: O trágico, o sublime e a melancolia (dois volumes)
Organizadores: Debora Pazetto, Rachel Costa e Verlaine Freitas
Relicário Edições
300 e 288 páginas / R$ 40 (cada)