Pesquisa e Inovação

Cai o consumo de frutas e hortaliças entre adultos brasileiros, diz estudo da UFMG

Abaixo da recomendada pela OMS, ingestão foi menor sobretudo entre 2015 e 2023, período marcado por instabilidade política e crise econômica agravadas pela pandemia

Frutas e legumes estão entre os itens comercializados na feira
Adulto brasileiro diminuiu seu consumo de frutas e hortaliças nos últimos anosFoto: Ana Maria Vieira | UFMG

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo de cinco porções diárias de frutas e hortaliças em cinco dias da semana, mas apenas 22,5% da população adulta brasileira segue essa diretriz. O consumo desses alimentos, essenciais para a manutenção da saúde e para a prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), caiu particularmente entre 2015 e 2023, acendendo uma luz amarela no país.

Essa é uma das conclusões do estudo Consumo de frutas e hortaliças entre adultos brasileiros: tendências de 2008 a 2023, que acaba de ser publicado na revista Cadernos de Saúde Pública por pesquisadores da Escola de Enfermagem da UFMG. A pesquisa também constatou que mulheres, indivíduos de 25 a 34 anos e pessoas com nível de escolaridade mais alto são os que mais reduziram o consumo de frutas e vegetais.

Coordenada pelo professor Rafael Moreira Claro, do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem, a pesquisa foi realizada com adultos (18 anos ou mais) residentes em 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal, de 2008 a 2023. O estudo recorreu a dados do Sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para DCNT por inquérito telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, para ponderar suas conclusões.

Estabilidade política = incremento da saúde
Uma das autoras do estudo, a pesquisadora Izabella Paula Araújo Veiga, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Nutrição e Saúde da Escola de Enfermagem, explica que foram avaliados dois tipos de consumo: o regular e o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Por regular, a pesquisa considera o consumo de qualquer quantidade em pelo menos cinco dias da semana. Já a ingestão recomendada pela OMS é de cinco porções diárias em cinco dias da semana.

Os resultados mostraram que, em média, 34% da população adulta consumiam frutas e hortaliças regularmente e 22,5% seguiam a recomendação da OMS.

“Para entender melhor as tendências ao longo dos anos, o período da pesquisa foi dividido em duas fases: de 2008 a 2014 e de 2015 a 2023. Essa divisão possibilitou observar mudanças que poderiam ficar escondidas em uma análise geral”, afirma Izabella. “No período completo (2008-2023), o consumo permaneceu estável. Contudo, a análise das fases separadamente identificou um aumento entre 2008 e 2014, seguido de uma queda entre 2015 e 2023”, ela explica.

Para Izabella Veiga, o crescimento inicial do consumo pode estar relacionado a um período de estabilidade política e de avanço econômico, o que favoreceu a adoção de políticas públicas de saúde e estímulo de hábitos alimentares saudáveis. A redução no consumo nos anos mais recentes, por sua vez, pode ter sido influenciada, em sua análise, pela instabilidade política e pela crise econômica, agravadas pela pandemia de covid-19, englobada pelo período.

A pesquisadora enfatiza que reduzir o consumo de frutas e hortaliças pode ter impactos negativos na saúde e na cultura alimentar do país: “Essa tendência de queda pode dificultar o alcance da meta estabelecida no Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos não Transmissíveis no Brasil (Plano de Dant), que tem a meta de elevar o consumo recomendado de frutas e hortaliças para 30% até 2030".

Além de Izabella Veiga e Rafael Moreira, o estudo é assinado por Thais Cristina Marquezine Caldeira, Marcela Mello Soares, Taciana Maia de Sousa e Luiza Eunice Sá da Silva, todas vinculadas à UFMG. Para o grupo que empreendeu a pesquisa, os resultados reiteram a importância de expandir e fortalecer as ações de saúde pública destinadas à melhoria do consumo alimentar e de promover uma vigilância contínua de desenvolvimento e aprimoramento de políticas de saúde eficazes.

Com Assessoria de Comunicação da Escola de Enfermagem