Pesquisa e Inovação

‘A luta das mulheres tem muitos nomes’: tese questiona neutralidade na organização do conhecimento

Pesquisa é tema do episódio de estreia da quarta temporada do podcast ‘Aqui tem Ciência’, da Rádio UFMG Educativa

Principais resultados de pesquisas pelo termo 'lésbica' no Google levavam a páginas pornográficas
Principais resultados de pesquisas pelo termo 'lésbica' no Google levavam a páginas pornográficas Foto: Pexels/Pixabay

No campo da biblioteconomia e da ciência da informação, os sistemas de organização do conhecimento são responsáveis por representar a informação e, com isso, facilitar sua recuperação. Na prática, tais sistemas são usados, por exemplo, na classificação dos livros para organizar as estantes de uma biblioteca ou na indexação dos resultados quando se faz uma busca por palavras-chaves na internet. 

Teoricamente, os instrumentos de organização deveriam ser neutros, mas, segundo a tese defendida na UFMG pela pesquisadora Rosana Trivelato, eles podem reproduzir padrões preconceituosos existentes na sociedade. Ela cita uma campanha promovida pelo site francês Numerama, em 2019, que questionava os critérios de recuperação da informação nas buscas realizadas no Google pelo termo “lésbica”: os principais resultados levavam a páginas pornográficas.

Análise de tesauros
Em sua pesquisa, Trivelato analisou os chamados tesauros, que são listas hierarquizadas de termos relacionados a determinados assuntos. Entre esses termos, o Homosaurs, vocabulário internacional de termos LGBTQ+, o Tesauro de mujeres, de Madri, o Tesauro de género: lenguaje com equidad, do México, o Tesauro para estudos de gênero e mulheres da Fundação Carlos Chagas, no Brasil, e a lista de cabeçalhos de assuntos da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.

A pesquisadora alerta para o descompasso entre os instrumentos dos sistemas de organização do conhecimento e as mudanças sociais, especialmente com relação à emergência de novos conceitos de gênero. Trivelato destaca a necessidade de considerar que o feminismo não é um só, assim como as mulheres também não são iguais.

A pesquisa inaugura a quarta temporada do programa Aqui tem ciência, que começa com uma série de quatro episódios dedicados a estudos sobre mulheres, também realizadas por autoras do sexo feminino. É o quarto ano consecutivo em que o programa traz episódios especiais para marcar o Dia Internacional da Mulher (8 de março). 


Rosana Trivelato: sistemas de organização do conhecimento precisam acompanhar as mudanças sociais
Trivelato: sistemas de organização do conhecimento não são neutrosAcervo pessoal

Raio-x da pesquisa:

Título: A luta das mulheres tem muitos nomes: os sistemas de organização do conhecimento frente a uma emergência conceitual

Autora: Rosana Matos da Silva Trivelato

O que é: Tese de doutorado que propõe discussão sobre a neutralidade dos sistemas de organização do conhecimento, especialmente frente à emergência de novos conceitos de gênero.

Programa de Pós-graduação: Ciência da Informação

Orientadora: professora Maria Aparecida Moura

Ano da defesa: 2022

Financiamento: Fapemig

O episódio 141 do Aqui tem ciência tem produção e apresentação de Alessandra Ribeiro e trabalhos técnicos de Cláudio Zazá. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos realizados na UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe da Rádio UFMG Educativa apresenta os resultados de um trabalho de pesquisa desenvolvido na Universidade. 

O Aqui tem ciência fica disponível em aplicativos de podcast, como o Spotify, e vai ao ar na frequência 104,5 FM, às segundas, às 11h, com reprises às quartas, às 14h30, e às sextas, às 20h.