Tratamento por plasmaferese no Hospital Risoleta UFMG salva vida de jovem de 30 anos
Doença rara, PTT acomete cinco a cada um milhão de pessoas; sintomas apareceram após diagnóstico de covid-19
Crisleine Tatiane de Souza, paciente do Hospital Risoleta Tolentino Neves (HRTN), gerenciado pela UFMG, foi diagnosticada com uma doença que atinge cinco a cada um milhão de pessoas. Ela desenvolveu Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT) – distúrbio que gera a formação de pequenos coágulos de sangue por todo o corpo – depois de ter se infectado pela covid-19. Após tratamento com sessões de plasmaferese, oferecidas dentro de um hospital 100% SUS, Crisleine se recuperou e teve alta neste início de ano.
Em 2019, quando estava grávida, Crisleine descobriu por meio de exames médicos que tinha queda incomum de plaquetas no sangue. Enquanto o normal é ter entre 150mil e 400 mil plaquetas/mm3 no sangue, ela apresentava 87% menos (na faixa de 19 mil plaquetas/mm3). Desde então, passou por tratamento por corticoide, medicação mais simples que gerava boa resposta.
Em 16 de dezembro de 2020, Crisleine procurou o Risoleta com manchas na pele e manifestações gripais como dor de cabeça, dor no corpo e coriza. Os sintomas denunciavam a covid-19 e as manchas sugeriam a evolução da doença no sangue (PTT), já resistente aos corticoides. Após uma avaliação apurada, incluindo a atuação da Clínica Médica, Nefrologia e Hematologia, seu quadro de saúde foi estabilizado pelo tratamento por plasmaferese. Em apenas três sessões a paciente ficou saudável, passando de 4 mil plaquetas/mm3 no sangue para 312 mil plaquetas/mm3.
Doença PTT
“A Púrpura Trombocitopênica Trombótica é uma doença rara. Por vezes é autoimune, mas pode ser desencadeada por outras doenças como quadros virais ou após o uso de determinados medicamentos”, explica Marina Rezende, da Clínica Médica do HRTN. “Ela se caracteriza pelo fechamento de vasos sanguíneos e pela isquemia de tecidos irrigados por esses vasos. Durante esse processo há intenso consumo de plaquetas e outras células do sangue, causando plaquetopenia e anemia grave, além da isquemia tecidual”.
A médica esclarece que a paciente não tinha o diagnóstico de PTT antes da internação, o que chama atenção. Ela chegou ao Hospital devido a um quadro de covid-19, que evoluiu para uma apresentação grave de PTT, “o que gera o questionamento se essa doença foi desencadeada pelo novo coronavírus”.
Plasmaferese
Segundo Marina Rezende, existem três tipos de tratamento para a PTT: o uso de corticoides, mais simples e acessível, que foi adotado para a paciente, mas parou de obter resposta; o uso de anticorpos monoclonais (caplacizumabe), não disponíveis no SUS; e a plasmaferese.
No terceiro procedimento, adotado pelo HRTN para a situação de Crisleine, são utilizados aparelhos semelhantes aos da hemodiálise. O sangue doente é retirado da pessoa e colocado nesse aparelho que separa as células sanguíneas da parte líquida do plasma. O plasma, que contém os anticorpos causadores da doença, é descartado, e as células sanguíneas devolvidas à pessoa. É um procedimento complexo, pois exige a utilização de um filtro específico, de uma grande quantidade de plasma fresco congelado (derivado de doação de sangue) ou albumina, e equipes médica e da enfermagem com experiência técnica para sua realização.
“Neste caso em questão, a plasmaferese foi determinante para a melhora da paciente”, avalia a profissional da Clínica Médica HRTN. Nem todos os hospitais oferecem o tratamento, sendo este um diferencial do Risoleta, que é totalmente SUS. “O Hospital tem disponibilidade de recursos técnicos altamente modernos, e o mais importante: uma equipe multidisciplinar envolvida, comprometida ao máximo com o paciente. Neste caso houve um envolvimento intenso das equipes de Clínica Médica, Nefrologia e Hematologia, que contribuíram sobremaneira para esse excelente desfecho: a alta da paciente em menos de um mês, após recuperar-se de um quadro seríssimo”.