Espaço do Conhecimento UFMG promove debate sobre o cenário político atual do país
O Café Controverso do Espaço do Conhecimento UFMG promove neste sábado, 16 de abril, às 11h, o debate sobre O que vem por aí na política? O evento reunirá dois professores do Departamento de Ciência Política da UFMG, Bruno Reis e Manoel Santos. A entrada é gratuita.
Segundo Manoel Santos, no Brasil, o sistema político sempre funcionou à base de declarações que eximiram governantes de suas
responsabilidades. “Frases como ‘Eu não sabia’, ‘Eu fui traído’, ‘Eu não estou envolvido’ são muito comuns entre políticos e precisam ser abolidas, porque distorcem a realidade. É preciso que os governantes parem de se colocar numa posição de vítima. É preciso que o PT, como um partido que está há 13 anos no poder, responda por tudo que aconteceu nesse período”. Por outro lado, Bruno Reis é mais crítico em relação ao impeachment: “é golpe, mas o governo tem que fazer por onde para evitar ser golpeado. Não adianta acreditar que ganhar uma eleição garante ao governo ser aturado indefinidamente, mesmo que não tenha cometido nenhum crime”.
Bruno Reis acredita que o grande risco da Operação Lava Jato é se tornar uma perseguição muito radical. “Uma Lava Jato que compreende seus objetivos de uma maneira fundamentalista, pensando não apenas em identificar, diagnosticar e punir práticas ilícitas, como também tentar uma espécie de reformulação do sistema político não pode dar certo. Isso porque não compete ao
Judiciário refundar coisa nenhuma”.
Em contrapartida, Manoel Santos defende que, se existem indícios de corrupção, eles devem ser perseguidos. “Não dá para parar por aqui com medo do que pode acontecer politicamente [...] Esse fenômeno do protagonismo exagerado dos tribunais e dos órgãos de controle não é novo. Isso coloca em risco a democracia na mesma medida em que a corrupção não é investigada. No entanto, é preciso respeitar direitos individuais e não abusar do poder”.
Em relação ao futuro, Manoel Santos aponta um grave desdobramento. “Uma consequência possível de antever como negativa de todo esse processo é a desestruturação completa do sistema partidário brasileiro. Quando a investigação chegar ao fim, o PT não será o mesmo, nem o PSDB e nem outros partidos brasileiros que estão envolvidos em escândalos de corrupção”.
Já Bruno Reis questiona: “como combater a corrupção? Por um processo de lenta decantação, de rotinas, procedimentos, fixações de regras e o lastro fundamental desse controle burocrático é a disputa partidária. [...] As pessoas acreditam que, se os partidos acabarem, a corrupção também irá acabar, o que não é verdade. Caso apareça um ‘salvador da pátria’ que foi eleito por
não ter compromisso com nenhum partido, que está contra tudo e contra todos, ele terá condições perfeitas para fazer patronagem pessoal, deslocar juízes e procuradores incômodos que dificultarem o caminho dele”.
Café Controverso
Os Cafés Controversos são encontros mensais que trazem sempre dois debatedores para conversar sobre temas amplos e diversificados da cultura, das artes e da ciência.
Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (31) 3409-8350.